Sandro Mesquita

Quem está seguro?

Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Com a frase "você precisa de alguém que te dê segurança, se não você dança!", um grupo de rock nacional daqui do Rio Grande do Sul falava sobre uma possível segurança no relacionamento e de como um homem deveria ser _ ou a expectativa de uma garota em relação ao seu possível parceiro _ ao lidar com ela e seus sentimentos. Em uma outra música, "Muros e grades", este mesmo grupo questiona a forma como a sociedade nas grandes cidades usa para se proteger do que é chamado de perigo ou, ao menos, o perigo visto e assim rotulado por nós. A questão é: quem está em segurança? Ou quem está seguro?

Se partirmos do princípio do perigo sendo tudo aquilo que ameaça a existência de uma pessoa ou coisa, como diz o dicionário, então precisaremos também questionar situações subjetivas para não sermos tão superficiais na reflexão. E se analisarmos pelo aspecto da segurança de forma mais objetiva e apenas olharmos em nossa volta, perceberemos, como na música, as pessoas se cercando de muros, grades, fios elétricos e arames farpados, fora um aparato de câmeras e telas de monitoramento, trazendo a sensação de tranquilidade para um grupo seleto de pessoas.

De forma geral, a segurança se dá em uma escala maior da sociedade através de suas forças, como as polícias Civil, Militar, Guardas Municipais, equipes e grupos de segurança privada e até mesmo "justiceiros e milícias" dentro de uma guerra civil não declarada. Esse combo de instituições e equipes de segurança também deveriam nos passar, através de suas estratégias, táticas, estudos, diagnósticos e modus operandi, uma certa tranquilidade, uma certa segurança!

Claro que sempre fica o questionamento sobre a valor investido em segurança sobreposto ao valor de investimento em educação e infraestrutura, por exemplo. Vamos dizer que, se investíssemos na educação, seria desnecessário aplicar mais em segurança. E, aproveitando o gancho segurança x educação, vem à memória alguns fatos acorridos nos últimos tempos que levantaram o debate sobre segurança nas escolas, deixando os temas mais próximos, de uma maneira que talvez não gostaríamos, mas que precisamos pensar. Do mesmo modo que se faz necessário trazer à tona os casos que vêm ocorrendo nas forças de segurança, em que polícias atiram, matam, assassinam seus colegas de trabalho. Mesmo que venha a turma do discurso do caso isolado, é preciso ver a decorrência disso em âmbito nacional.

Manchetes estampam jornais com casos de pedofilia e abuso sexual onde, em grande parte, os abusadores são pessoas próximas e parentes, mesmo sabendo que isso movimenta uma grande rede de pessoas encolhidas.

Algumas situação aqui citadas independem de classe social, embora saibamos quem é a maior parte das pessoas que sofrem, seu lugar de moradia, etnia, só diferenciando o CEP. Infelizmente, fazem parte de um cardápio diário de notícias. Mas quando pensamos a questão da segurança de maneira subjetiva, entendemos que toda a estrutura que está posta nos locais que deveriam ser seguros, a começar pela casa e passando pela escola e sociedade em geral, é constituída de indivíduos. Pessoas que deveriam nos dar segurança em nosso crescimento, desenvolvimento psicológico, mental, físico, intelectual. Pessoas e indivíduos aos quais, por conta da convivência, fica difícil identificar o perigo, em alguns casos imperceptível até para o agressor.

Não podemos colocar muros, grades e fios elétricos entre nossas relações, sentimentos e empatia em nome de uma desconfiança ou insegurança. Mas temos o dever de nos cuidar mentalmente para, no mínimo, ser a segurança de alguém.

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